
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma crescente onda de ataques cibernéticos, com alvos que vão desde instituições públicas até empresas privadas de grande porte. A seguir, analisamos dez dos mais impactantes incidentes de segurança digital no país e apontamos estratégias que poderiam ter evitado ou atenuado esses ataques.
1. Mega vazamento de dados pessoais (2021)
Apelidado de “Vazamento do Fim do Mundo”, esse episódio expôs, em janeiro de 2021, mais de 223 milhões de registros contendo informações pessoais de brasileiros vivos e falecidos. Os dados incluíam CPF, nome completo, endereço, renda, score de crédito e até dados do INSS. A origem do vazamento permanece indefinida, mas acredita-se que tenha resultado da combinação de diversas fontes.
Prevenção possível:
Criptografia de dados, classificação da informação por sensibilidade e políticas rigorosas de acesso com privilégio mínimo teriam reduzido o risco. Ferramentas de prevenção contra perda de dados (DLP) também seriam fundamentais.
2. Ransomware no STJ (2020)
O Superior Tribunal de Justiça teve suas operações paralisadas por dias após um ataque do ransomware “RansomExx”, em novembro de 2020. O malware criptografou milhares de processos e interrompeu o funcionamento do tribunal.
Prevenção possível:
Backup contínuo com testes regulares, proteção de endpoints com EDR, segmentação da rede e abordagem Zero Trust. Treinamento contra phishing seria igualmente essencial.
3. Invasão de contas de autoridades – Operação Spoofing (2019)
Em 2019, a Polícia Federal desvendou a invasão de contas no Telegram de figuras públicas, como o então ministro Sergio Moro. O hacker Walter Delgatti Neto assumiu a responsabilidade e compartilhou o conteúdo com a imprensa.
Prevenção possível:
Utilização de ferramentas de comunicação com criptografia de ponta a ponta, autenticação multifator (MFA) e a proibição institucional de aplicativos pessoais para tratar de assuntos oficiais.
4. Ataques do LulzSec aos sites do governo (2011)
O grupo LulzSecBrazil promoveu ataques coordenados contra diversos portais governamentais em 2011, incluindo sites da Presidência da República e da Receita Federal. O objetivo era protestar contra políticas públicas.
Prevenção possível:
Firewalls de aplicação, proteção contra ataques DDoS, atualizações constantes e testes de intrusão periódicos (pentest). Infraestrutura em nuvem com redundância pode garantir continuidade.
5. Fraude no sistema financeiro do governo – Siafi (2024)
O Sistema Integrado de Administração Financeira foi alvo de um ataque que desviou cerca de R$ 15 milhões, por meio de phishing e certificados digitais falsificados.
Prevenção possível:
Controles robustos de identidade, validação rigorosa de certificados e auditoria contínua poderiam ter evitado o prejuízo. A segregação de funções também é uma boa prática.
6. Vazamento de dados da Netshoes (2024)
Mais de 38 milhões de usuários tiveram suas informações vazadas em julho de 2024, incluindo CPF e histórico de compras, após um ataque aos servidores da Netshoes.
Prevenção possível:
Tokenização de dados, armazenamento mínimo com base no conceito “Privacy by Design” e monitoramento com ferramentas como SIEM. Auditorias em fornecedores e atuação efetiva do DPO são exigências da LGPD que podem evitar esse tipo de incidente.
7. Ransomware na Record TV (2022)
A Record TV foi alvo de ransomware que criptografou seu acervo e documentos internos. Embora existissem backups, informações sensíveis vazaram na deep web.
Prevenção possível:
Isolamento de redes críticas, backups offline e ferramentas com inteligência artificial para monitoramento de endpoints seriam eficazes. Ter um plano de resposta atualizado é imprescindível.
8. Invasão ao Banco de Brasília (2022)
O BRB sofreu um ataque com exigência de resgate em criptomoedas, que comprometeu dados confidenciais. O caso ocorreu no mesmo período do ataque à Record TV.
Prevenção possível:
Aplicação de políticas de controle de acesso baseado em função (RBAC), microsegmentação de rede e backups protegidos contra modificações. Testes de segurança recorrentes são fundamentais no setor bancário.
9. Paralisação no TJRS (2021)
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul foi atingido por ransomware em abril de 2021, afetando mais de 12 mil dispositivos e comprometendo o acesso a processos jurídicos.
Prevenção possível:
Ferramentas de detecção e resposta estendida (XDR), segmentação de rede conforme criticidade e simulações periódicas de ataques auxiliariam na rápida contenção.
10. Brasil entre os países mais atacados (2024)
Em 2024, o Brasil registrou mais de 700 milhões de ataques cibernéticos, ocupando o segundo lugar no ranking global. Setores como telecomunicações, logística e TI foram os mais atingidos.
Prevenção possível:
Uma política nacional de cibersegurança, adoção de normas ISO/IEC 27001 e 27701, e campanhas de conscientização digital são caminhos para reverter esse cenário alarmante.
Os ataques apresentados evidenciam o quanto o Brasil ainda precisa avançar em maturidade cibernética. O investimento em tecnologia, a cultura de proteção de dados e a atuação conjunta entre governo, empresas e sociedade são fundamentais para enfrentar as ameaças digitais que se intensificam a cada ano.